quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Doctor Who Special - The End of Time Part II


Doctor Who – The End of Time (Part II)

Exibição: 1º/01/2010

Imagem: rollina_gate



É difícil acreditar que após quatro anos, David Tennant se despediu de Doctor Who. E foi com um episódio muito bom, mas muito bom mesmo. Entretanto, não foi perfeito. É claro que como fã eu direi “nossa, foi fantástico, inesquecível, fenomenal”, mas se olhar com um pouquinho mais de atenção, serei ainda mais sincera e direi “foi fantástico, mas poderia ser muito melhor”.


The End of Time encerrou uma era de exageros. Sim, porque Russell T Davies era exagerado em todas as suas crises. O que se podia observar perfeitamente é que ele escrevia dramas pessoais de forma brilhante, mas tinha suas dificuldades nas tramas sci-fi e por conta disso sempre abusava das ameaças megalomaníacas para compensar suas faltas. E não foi diferente com The End of Time. Davies conseguiu trazer de volta não apenas o Mestre e os Senhores do Tempo (e Rassilon!), mas a própria Gallifrey, e bem à porta do nosso pequenino planeta Terra. Como bem disse alguém por aí, daqui a pouco será coisa comum em nossos noticiários “senhoras e senhores, hoje estivemos mais uma vez a beira da extinção graças a um planeta pronto a engolir a Terra” ou qualquer coisa semelhante.


Mas o que realmente me tirou do sério, foi terem me dado o gostinho de ter Gallifrey de volta juntamente com os Senhores do Tempo, apenas para os arrancarem de mim tão rapidamente como surgiram. Isso não é justo!


Apesar de tudo (ou principalmente por causa de tudo isso), o final da era Davies foi épico. Depois de uma primeira parte confusa, a segunda parte foi mais coerente e agradável. E acertaram com louvor ao colocarem Wilfred como companheiro do Doutor para esse final. Não tinha como ser um desconhecido, e não teria espaço para um velho companheiro. Mas Wilf esteve sempre por ali, era querido por todos nós e pode continuar com sua personalidade encantadora sem atrapalhar a trama. Muito pelo contrário, as cenas entre Wilf e o Doutor foram talvez as melhores das duas partes desse especial.


Inesquecíveis as cenas em que os dois conversam na lanchonete (ainda na parte 1) e que levou boa parte dos fãs às lágrimas, ou ainda a tentativa de Wilf de fazer o Doutor segurar o revólver na nave Vinvocci (e apenas a menção da volta dos Senhores do Tempo leva o Doutor a arrancar a arma das mãos de Wilf, o que nos diz muita coisa sobre o horror que foi a guerra que acabou por destruir Gallifrey). Mas nada, absolutamente nada se compara ao momento em que o Doutor precisou sacrificar a si mesmo para salvar o avô de Donna. E quem diria que seria Wilf (e não o Mestre) o responsável pelas famigeradas quatro batidas que acabariam com esta regeneração do Doutor?


Muito legal ter sido Wilfred, mas um pouco estranho que uma mera regeneraçãozinha tenha instigado a profecia dos Ood, não? (aliás, como foi que os Ood se desenvolveram tanto em tão pouco tempo? Eu sei que eles falaram no rasgo no tempo, mas não me convenceram. Parece que há algo mais por trás dessa história).


E já que o assunto é profecia, fiquei muito incomodada com a profetisa de Gallifrey. Não sei, mas vai contra a minha visão racional dos Senhores do Tempo, embora o plano de implantar no Mestre ainda criança um sinal que permitiria a passagem dos Senhores do Tempo através do vortex temporal em que estavam confinados tenha sido bem inteligente (só me pergunto como fica a história de que eles não podem mexer na própria linha temporal).


E John Simm mais uma vez esteve brilhante como Mestre. No momento em que ele explica o que sente para Wilf e o Doutor à beira das lágrimas, eu simpatizei totalmente com o vilão. Assim como torci para que o Doutor não atirasse no seu arquiinimigo. Não porque o Doutor é contra armas, mas porque o Mestre é tão insanamente bom que não consigo imaginar o Doutor sem sua contraparte.


É uma pena que Russel T Davies tenha exterminado de vez os Senhores do Tempo (apesar de que, eu confesso, ainda tenho a esperança de que o Moffat conseguirá trazer Gallifrey de volta de alguma forma inteligente e definitiva). Já o Mestre...bom, esse sempre volta. Ou alguém duvida de que em algum momento ele reaparecerá?


Quanto ao Doutor...essa foi a primeira vez que o vi sofrer tanto ao mudar. Davies sabia que seu tempo estava chegando ao fim e ele quis dar um fim magistral para a sua era e de Tennant e por isso tudo girou em torno da morte do Doutor nos últimos episódios. Foi um pouco desconfortável vê-lo tão apreensivo, desesperançado e mesmo apavorado com o fim de sua existência. Eu cheguei a pensar que ele temia que esse fosse o seu fim total, sua morte real e não apenas uma regeneração. Mas não, o Décimo de fato temia a mudança.


Tennant encarnou o Doutor mais humano de todos até agora. Bom, é o que dizem, eu confesso que ainda não assisti episódios suficientes de todos os Doutores ao longo das décadas, mas não há dúvidas de que o Décimo Doutor era incrivelmente humano. Ele sentia demais, amava demais, aproximava-se muito desses pequenos seres nessa pequena Terra. E ele amava viver, mesmo quando não tinha quaisquer motivos e se lançava em jornadas suicidas, sempre encontrando uma solução que o mantivesse aqui por mais um pouquinho.


Talvez por isso a idéia de regenerar fosse tão horrível para ele. A regeneração não é a morte. Eu sempre encarei como uma nova parte do Doutor aflorando e tomando conta, mas sem matar aquela anterior que continuará para sempre fazendo parte de sua pessoa. Ou seja, o mesmo homem sob uma nova capa e com algumas (sérias) modificações. Mas para o Décimo essas modificações matariam tudo o que ele era agora e isso o aterrorizava. Justamente porque o Décimo era tão humano, com medos humanos e paixões humanas. Por isso foi compreensível seu desespero no momento que percebeu que precisaria se sacrificar uma vez mais para salvar o amigo. E não seria um sacrifício pela humanidade, mas seria a morte por apenas um homem. Um homem idoso e de coração enorme, que confiava nele plenamente, a ponto de aceitar a própria morte para que o Doutor pudesse continuar a fazer o inimaginável.


Teria sido mais bonito se o Doutor tivesse aceitado o sacrifício com mais dignidade. Se tivesse deixado de lado o discurso de auto-piedade e entrado na cabine sem reclamar por tudo o que estaria perdendo para salvar o amigo. Sim, seria muito mais poderoso e agradável aos nossos olhos, e faria da sua última frase na TARDIS muito mais poderosa, mas então não seria o Décimo, porque o Décimo se deixa levar pelas emoções. Ele cai, erra, sente remorso, é centrado em si mesmo e egoísta muitas vezes, mas também tem o coração maior do que sua própria existência. Ele tem medo e ama viver e é por isso que o seu discurso é tão próprio dessa encarnação, embora esteja muito longe de todas as regenerações prévias.


Mas o que realmente importa é que ele sabia desde o início que sacrificaria a si mesmo pela vida de Wilfred, e como foi apavorante para ele. Acho que nunca esquecerei do Doutor na TARDIS, dizendo que não queria ir. Eu chorei, realmente chorei. E a explosão de energia durante a regeneração me deixou boquiaberta (novo cenário, nova TARDIS, nova decoração, tudo novo!). Por mais que eu quisesse continuar sofrendo pela partida do Décimo, fiquei tão extasiada com a aparição exuberante do Décimo Primeiro que tudo o que consegui foi ficar pulando como ele, sorrindo como uma idiota na frente da tela, encantada por vê-lo analisando seu corpo, na dúvida se era homem ou mulher.


O maior defeito nesse episódio final para mim foram as despedidas. Eu entendo que na verdade ao mostrar o Doutor procurando cada pessoa que foi importante para ele no decorrer dos anos, a série estava nos dando a oportunidade de dizermos adeus aos personagens que tanto amamos, mas não poderiam ter feito de uma forma um pouquinho diferente? Foi tão surreal ver o Doutor procurando um a um. A única explicação plausível é a de que ele pretende jamais reencontrá-los. Ou então, que queria ter uma última lembrança ainda com os sentimentos que guarda como Décimo Doutor, pois sabe que no momento em que regenerar até mesmo sua forma de ver e sentir serão diferentes.


Seja como for, não soou natural para mim o Doutor cronometrar sua regeneração tão perfeitamente de forma que pudesse dizer adeus a todos eles. Mas confesso que adorei ver Rose novamente. E para todos que criticam o fato dela não lembrar do Doutor no momento que ele regenerou para o Décimo, pergunto se vocês lembram de todas as pessoas desconhecidas com quem esbarram na rua. Eu não.


E pela primeira vez gostei de rever Martha e Mickey (talvez porque fosse a última vez.). Mas gostaria de saber como os dois acabaram casados. Não acho Mickey homem suficiente para uma mulher como Martha (e ela era tão fofinha noiva do médico lá). Já Donna...nunca os perdoarei por não a fazerem lembrar quem realmente é. Tudo bem que ela ficou feliz, casando e realizando seu sonho, mas seria muito mais corajoso de Davies se a fizesse realmente lembrar quem era e possivelmente tirar o Doutor da situação complicada em que ele esteve com o Mestre e Rassilon, mesmo que isso custasse sua vida.


Quanto a Jack, como estará sua vida depois de Children of Earth? E como ele teria interpretado aquela aparição repentina do Doutor?


Agora, tudo que sei é que Matt Smith tem um grande fardo nas costas. Os fãs de David Tennant são muitos e irão demorar para aceitar sua partida, mas a verdade é que estou tão ansiosa por conhecer de verdade o novo Doutor que mesmo o meu luto está bem guardado. Todas as aventuras dessa décima regeneração estarão bem seguras em meu coração e memória, mas chegou o fim da humanidade exagerada do Doutor. A ansiedade é em saber como será o Doutor daqui para frente, com novo produtor, novo ator, nova personalidade, novos companheiros (mas mesma trilha sonora, thanks God!). Quando será mesmo a Primavera de 2010?


*****


Algumas considerações:

* Toda a trama na nave Vinvocci foi desnecessária. A única cena realmente importante foi a da conversa de Wilfred e o Doutor, mas ela poderia ter acontecido em qualquer lugar, até na TARDIS. Mas gostei dos cactus ambulantes.

* Muito bonita a visita do Doutor à neta de Joan Redfern, demonstrando que ele não esqueceu o que viveu enquanto John Smith.

* Gostei de ver a participação de Russell Tovey como Alonso (personagem que já apareceu em The Voyage of the Damned, só para lembrar os que tem memória ainda pior do que a minha, coisa que é difícil). Mas era realmente necessário o Doutor aparecer para Jack só para unir os dois? (se bem que, se não fosse por Being Human, eu gostaria de ver Russell em Torchwood na possibilidade de uma próxima temporada)

* Interessante que uma população inteira de Mestres não briguem entre si. Achei legal que todos aceitem o comando do Mestre original. Talvez seja porque eles precisem do Mestre para continuarem existindo.

* O Doutor se joga de uma nave a alta velocidade e a sei lá quantos metros de altura e continua vivo? Por mim sua regeneração começaria ali mesmo.

* Qual era o propósito do tal Joshua Naismith e sua filha mesmo? Eis dois personagens inúteis. Se era só recobrar o portal e usar o Mestre poderiam ter feito de outro jeito.

* O Presidente dos Senhores do Tempo menciona os “weeping angels” velhos conhecidos nossos de Blink. Mas mesmo que não tivesse mencionado, eu teria reconhecido aquela postura dos dois gallifreyanos em qualquer lugar.

* Rassilon é o mesmo Rassilon fundador de Gallifrey ou algum outro Gallifreyano que por “coincidência” tem o mesmo nome?

* Afinal, quem era a mulher que aparecia para Wilf? Achei legal que tenham mantido em segredo. As lágrimas dela, o reconhecimento do Doutor, a votação contrária dentre todos os Senhores do Tempo nos faz pensar em múltiplas hipóteses, mas o legal mesmo foi terem nos deixado no escuro, assim nos dá chance de criar teorias.

A mãe do Doutor? Susan, a neta que foi abandonada em uma Terra pós-apocalíptica (lá na era do Primeiro Doutor)? Donna que não morreu e na verdade regenerou? Romana, a outra Senhora do Tempo que foi companheira do Doutor? The White Guardian? (conhecido para os seguidores de Doctor Who desde o seu início, o que infelizmente não é o meu caso).

E mais importante do que “quem é ela”, mas sim “como ela consegue se comunicar com Wilf?”.

* E Wilfred? Humano normal ou há realmente alguma coisa por trás do avô de Donna?

* Os Odd estão sendo evoluindo para serem os próximos Time Lords?

* Alguém viu o trailer da próxima temporada? Não sei vocês, mas eu fiquei encantada. Tem todo o ‘jeitão’ do Moffat mesmo.



6 comentários:

Anônimo disse...

Oi
Cheguei até aqui através da comunidade Doctor Who Brasil.
Gostei demais do seu release!!!! Ficou ótimo.
Chris Eccleston é meu Doctor preferido mas amo o Tennant também, o que quer dizer que provavelmente vou adorar o Matt rsrsrsrs

Icaro dos Santos França disse...

Muito bom seu comentário, Mica!

Alguns detalhes à mais:

A mulher misteriosa que falava com Wilf era a mãe do Doctor.
Rassilon foi o Pai Fundador de Gallifrey, e este tipo de "plano" - implantar uma "batida" no cérebro do Mestre para fazer a conexão - era típico dele...pode conferir o episódio do Sétimo Doctor Who, "Silver Nemesis", em que ele faz algo parecido, visando outros fins.

No episódio de rádio "No More Lies" (BBC 7), o Oitavo Doctor Who - Paul McGann - responsável de fato pelo fim da Guerra Temporal, encontra uma Time Lady sobrevivente, que emprega o mesmo recurso de Rassilon em "The End of Time II" - uma trava temporal - pois estava agonizante e não queria morrer.

E repare que, no instante existencial em que o Décimo DW passou pela regeneração, Gallifrey explodiu em chamas!

Somente a cena final da despedida foi piegas e desnecessária - Martha e Mickey juntos ? Só pro DW dar uma marretada na cabeça do Sontaran!

Ah...já vi uma cena do Matt Smith como DW, com a Jackie Tyler tascando um beijo nele! Ele deve gostar é de um xamego e de um cafuné!

Mica disse...

@Ícaro, eu não tenho como conferir os episódios da série clássica porque...bem, eu não tenho a série clássica :-(
Onde viu a cena dela o beijando?
Quanto a mulher de branco, eu achei que fosse a mãe dele, mas eles deixaram propositalmente sem resposta justamente para deixar aberta as opções. Quero dizer, a atriz comenta que é a 'mãe' do Doutor, mas em nenhum momento o RTD ou qualquer outro confirma o que ela disse.

Sobre as cenas de despedida, eu queria rever todo mundo antes de dizer adeus, mas não gostei da forma como foi feito.

@evelinegomes fico feliz que tenha aparecido por aqui e gostado do texto. Eu o escrevi inicialmente para postar no site Teleséries, mas o editor achou meio...bom, ele achou que poderia ser melhorado, então postei esse aqui no blog e escrevi outro que postei no site, hehehe.

Icaro dos Santos França disse...

Mica, acho que foi no "Doctor Who Confidential - The Eleventh Doctor". Vou conferir - está dividido em três partes no YouTube.

A grande fofoca do momento, quanto ao DW, é o possível retorno de River Song. A Alex Kingston - que fez o personagem - está sendo vista frequentemente nos sets de filmagem com o Matt Smith!

Quanto aos episódios da série clássica - incluindo os desenhos animados de eps do segundo Doctor Who - fazendo uma pesquisa no YouTube, você irá encontrar muito material de interesse!

Anônimo disse...

Achei otimo!!!
tambem acho a mulher misteriosa a mãe do doutor.

kratosfoda disse...

É impossível não chorar na regeneração do 10º doutor, toda a ênfase dada a cena é simplesmente, fantástico!

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