segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Desafio Literário: O Horror em Red Hook

Livro: O Horror em Red Hook
Autor: H.P. Lovecraft
Tradução: Jorge Ritter
Editora: L&PM Pocket
Nº Páginas: 64

Há algum tempo (e por 'algum tempo' eu quero dizer anos, muitos anos) eu tenho ensaiado ler Lovecraft. Praticamente todo mundo cita o autor quando o tema é terror (seja na Terra, seja no espaço) e eu ficava me coçando de curiosidade. Mas por inúmeros motivos que não valem a pena aqui relatar, nunca tinha lido. Até que chegou o Desafio Literário 2012 e enfiou o tema 'terror' no mês de agosto. Foi a união da fome com a vontade de comer. Não pensei duas vezes, e coloquei Lovecraft na minha lista.

A dificuldade foi achar livros dele. Nas livrarias daqui eram poucos e caríssimos (eu não tinha coragem de gastar uma fortuna com um livro tão fininho que mal dava para ver de lado) e na internet eu só achava uns catataus gigantescos e em inglês (nada contra, mas agosto não tem sido um mês muito promissor para mim literariamente falando). Mas graças à Anica eu soube da publicação de O Horror em Red Hook por acessíveis R$ 5,00 (ou R$ 3,00 na versão e-book) e fui correndo à livraria adquirir o meu (e acabei comprando também o livro para o tema de dezembro, mas aí já são outros quinhentos).

Fiquei bastante satisfeita com o que eu li. É engraçado observar o quanto os livros escritos  em outras épocas eram diferentes dos atuais. Com apenas 3 contos (O Horror em Red Hook, Ele, A Tumba), o livro de Lovecraft é curto, fino e eficiente, bem diferente das sagas gigantescas que se vê nas livrarias hoje em dia, onde 400 páginas é um livro relativamente pequeno. Nada contra um estilo ou outro, estou apenas pontuando como as coisas foram mudando com o tempo.

Não sei se foi por ter lido o livro em períodos diurnos, mas não senti medo em nenhum momento. Tenho a sensação que a escrita de Lovecraft é mais descritiva do que apelativa. Quero dizer, você lê sobre os horrores que os personagens enfrentaram e as estranhezas que vivenciaram, até mesmo o sobrenatural que inevitavelmente enxergaram, e ainda assim o leitor não fica apavorado, com aquele medo que não é racional, apenas acontece. Tudo é bem lógico, definido e talvez até um pouco previsível.

É claro que eu não sei como os leitores da época que os contos foram escritos se sentiram, afinal, algumas boas décadas nos separam e hoje em dia estamos tão acostumados com a literatura e mesmo os filmes de terror que apelam para nossos sentimentos, algo tão mais visual e assustador, que quando nos deparamos com uma forma mais racional de expor as estranhezas do sobrenatural os nossos sentidos não se arrepiam mais. Por outro lado, essa apresentação mais didática e fria do oculto e das respostas ao medo chega a ser vibrante pela sua diferença. 

Os três contos do livro são bem diferentes entre si e, embora eu tenha gostado dos três, o que mais atraiu a minha atenção foi o último, A Tumba. Cada qual teve o seu momento comigo, mas achei muito legal essa incerteza se o personagem estava enlouquecendo ou realmente teve um vislumbre do outro lado. Era tudo muito mais psicológico e imaginar os acontecimentos ocupou a minha mente por um bom tempo.

"Ele" foi um conto que me incomodou um pouco, porque não consegui chegar a conclusão alguma. Fiquei confusa. Eu gostei de uma forma geral mas, confesso, não consegui captar o que o autor realmente queria dizer para o leitor com essa história. Ou talvez eu tenha gostado tanto desta ideia de ver o passado e o futuro que não comprei a ideia de espíritos vingativos.

Já o próprio O Horror em Red Hook foi um tantinho cansativo em alguns momentos, com a insinuação de rituais satânicos, mas sem algo palpável que nos fizesse ficar aterrorizados com o que líamos. Mas foi a minha introdução a Lovecraft, então não posso realmente reclamar. Agora, é impressão minha ou o autor era um pouco xenófobo (ou preconceituoso mesmo)? Eu lia um certo desprezo pelos estrangeiros em todos os contos do livro.

Sim, posso estar enganada, afinal, não tenho ideia de como era a situação real entre americanos e estrangeiros naquele período, mas fiquei com esta sensação de que tudo o que era baixo, criminoso e impuro o autor atribuía aos estrangeiros.

A despeito disso o livro vale a pena e me deixou bastante satisfeita. Agora estou ansiosa para ter em mãos algum dos contos do espaço escritos pelo autor.

Um comentário:

Vivi disse...

Talvez Lovecraft não tenha se conformado à padronização da estética do medo vigente. Não conheço o autor, porém, ao ler a sua resenha, fiquei a imaginar algo assim. Beijocas!

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